Design Estratégico

Raphael Cardoso Mota Pereira
5 min readMay 30, 2022

O TBD | Technology + Business + Design | é uma tendência que está sendo seguida e implementada nas empresas mais valiosas do mercado. Neste artigo vou contar como esse tema serviu de inspiração para o desenvolvimento da disciplina de Design Estratégico no curso de Engenharia de Produção do Inatel.

Acredito que a interdisciplinaridade tem ampliado a visão e elevado o patamar de qualificação de diversos profissionais no mercado. Naturalmente, os profissionais que expandem suas habilidades geram um resultado novo e diferente, e mudam as expectativas profissionais dentro das organizações.

O modelo T-shaped Skills revela como é importante um profissional possuir uma série de habilidades (horizontal) que atuam de forma complementar ao seu conhecimento profundo e especializado (vertical). Por exemplo, a imagem abaixo mostra como as habilidades do novo profissional de marketing deve ser abrangente para potencializar uma habilidade profissional profunda. Isso implica em estar preparado para atuar com visões profissionais mais complexas, como o Product‑Led Growth, necessárias para vencer os desafios de mercado mais recentes.

T-shaped skills do marketeiro do séc XXI.

O design como competência, tem aparecido de forma recorrente na parte horizontal do T-Shaped Skills de muito profissionais de mercado. Para validar essa informação basta ir no Linkedin e buscar vagas como: especialista em inovação, especialista de produtos, business designer, especialista em transformação digital, etc.

Algumas das habilidades em design para esses perfis profissionais são: realizar entrevistas com usuários; conduzir workshops de ideação e co-criação; possuir conhecimento em interface e experiência do usuário (UI/UX); criar protótipos rápidos para validação de hipóteses; desenvolver apresentações com storytelling; construir cenários; etc.

Naturalmente, essa demanda por profissionais com mindset de designer, mostra que as empresas também estão mudando sua cultura organizacional, e absorvendo uma mão de obra que até pouco tempo não era ofertada. E é sobre esse fenômeno interdisciplinar do Design + Technology + Business que vamos explorar daqui por diante.

TBD | Technology + Business + Design |

O conceito TDB foi relatado pela primeira vez no Design in Tech Report de 2019, um relatório criado por John Maeda, e inspirado no trabalho de Mary Meeker sobre as tendências da Internet. O relatório mostra que o design tem se tornado essencial para a construção de bons negócios.

Desde 2010, mais de 27 empresas fundadas por designers foram adquiridas por empresas como Google, Facebook, Yahoo!, Adobe, Dropbox e LinkedIn. Dos empreendimentos que mais arrecadaram em investimentos desde 2013, 20% têm co-fundadores designers. E em 2015, pela primeira vez na história, seis firmas de capital de risco convidaram designers para integrar suas equipes.

Outro movimento interessante foi o crescimento de aquisição de agências de design por empresas de consultoria, como McKinsey & Co e Accenture. O que aponta que todas as empresas de tecnologia e negócios terão o design como recurso estratégico na geração de valor junto ao cliente.

As BIG5 de consultoria com drive para design.

No Brasil o relatório “As tendencias de inovação mais desejadas pelo mercado e as oportunidades para startups”, indica que o design para inovação é a terceira tendência de maior interesse pelo mercado, sendo uma ferramenta para o processo de inovação. Essa tendência foi apontada por 48% dos executivos e 16% dos investidores como sendo de seu interesse.

Considero o lançamento do Business Model Generation (2010) como um marco da interdisciplinaridade do design com o business. Uma escola de negócios ágil e centrada no usuário, que utiliza as principais habilidades em design para o desenvolvimento de negócios: entrevistas com usuários; ideação; pensamento visual; prototipagem; contar histórias; e construção de cenários.

BMG, escola de negócios ágil e centrada no usuário.

A interdisciplinaridade do design com o technology já vem de longa data, mas no documentário Design Disruptors é revelada uma perspectiva nunca antes vista sobre as abordagens de design nas startups, e como essas startups estão ultrapassando indústrias de bilhões de dólares por meio do design.

No documentário, diversos profissionais de design que atuam em startups como Netflix, Spotify, Facebook — entre outras 13 startups que estão fazendo a disrupção o setor por meio da tecnologia — fazem depoimentos sobre como o design tem impactado o modelo de negócio e a cultura organizacional dessas organizações.

Design Estratégico

A experiência com a docência no Instituto Nacional de Telecomunicações tem sido um grande aprendizado pessoal e profissional. E uma importante tarefa do professor é estruturar um plano de aula que tenha como objetivo desenvolver o conhecimento e habilidades especificas nos alunos(as).

Na engenharia de produção, o tema da ergonomia está principalmente relacionado as abordagens de sistemas ergonômicosrelação homem-máquina e trabalho em grupo — e análise de posto de trabalho análise de tarefas e aplicação de normas. Considero essas abordagens a habilidade profunda que deve ser desenvolvida no engenheiro de produção, mas em um cenário do séc. XXI, precisamos complementar e desenvolver outras habilidades profissionais.

Por isso, expandi essa habilidade para produtos e serviços, e tenho utilizado o design para explorar temas mais contemporâneos como a experiência do usuário (UX). É importante considerar que todo desenvolvimento sobre UX é um desdobramento sobre a pesquisa operacional e da ergonomia.

Empresas especializadas em business intelligence buscam entender as variáveis que mais impactam na fidelização dos clientes. No caso da SAP, os principais pilares são: Engajamento dos Funcionários; Satisfação do Cliente; Percepção da Marca; Experiência do Usuário; e Satisfação do Produto.

Nesse sentido, a disciplina de Design Estratégico tem como objetivo desenvolver habilidades que vão além do chão de fábrica, e que possibilitem analisar marcas e portifólio de produtos a partir da experiência do usuário, sem abrir mão do rigor metodológico e das técnicas utilizadas na ergonomia e usabilidade.

Obrigado pela leitura. Grande abraço!

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